TONY SOUSA

A negação do livre-arbítrio, a instituição do pedobatismo e a morte dos "hereges" que honravam a Cristo ...



Os registros históricos nos apontam que a partir de 370 A.D alguns bispos católicos, principalmente na África, começaram a praticar o batismo de crianças recém-nascidas. A ideia passou a ser prontamente defendida por Agostinho de Hipona, considerado por muitos historiadores, o pai da Igreja Católica Apostólica Romana. Agostinho escreveu o seguinte comentário: Quem não quer que as criancinhas recém-nascidas do ventre das suas mães sejam batizadas para tirarem o pecado original... seja anátema". (David Benedict, “A General History of the Baptist Denomination, I, p. 59).

Naquela época, ao contrário do que se pensa, existia uma clara divisão entre os cristãos, afinal haviam grupos fora da igreja oficial do estado, os quais não aceitaram o casamento pervertido com o estado, o qual se deu com o edito de Milão, criado pelo imperador Constantino. Um grupo em especial foi digno de nota pelos principais historiadores cristãos: Os donatistas.

Os donatistas eram separatistas. Negavam-se a unirem com as igrejas oficiais. Batizavam todos aqueles que vinham da igreja oficial do estado, consideravam que o batismo infantil era uma heresia. Eram irredutíveis nas questões de fé e no zelo com o ensino bíblico. Constantino condenou o movimento donatista no ano 316, considerando-o ilegal.

O bispo donatista Petiliano escreveu contra Agostinho, o qual acusava os donatistas (anabatistas) de heresia contra a igreja católica por rebatizar aqueles que aderiam ao movimento anabatista: “Aquele que me acusa de batizar duas vezes, realmente não foi batizado uma vez. O apóstolo Paulo diz que há um só Senhor, uma só fé e um só batismo. Este batismo que professamos publicamente é o correto e os que acham que existem dois são insanos” (David Benedict, “History of the Donatists”, 1875, p. 49).

Segundo nos relatam alguns historiadores, o crescimento desse grupo de anabatistas foi espantoso. No concílio feito por Teodósio II em 441 na cidade de Cartago, compareceram 286 bispos da igreja oficial e 279 bispos donatistas. Robinsom declara que: "tornaram-se tão poderosos que a corporação católica invocou o interesse do imperador Constantino contra eles, pelo que os donatistas inqueriram: - que tem o imperador a ver com a igreja? Que tem os cristãos a ver com o rei? Que tem os bispos a ver no tribunal?". O historiador Orchard, relatou que: "tornaram-se quase tão numerosos como os católicos romanos". E o historiador Jones diz na sua Conferencia Eclesiástica, Vol. I, pg 474: "Rara era a cidade ou vila na África em que não houvesse uma igreja donatista".

Deus sempre teve um remanescente fiel em todos os momentos da história, os quais recusam-se a mesclar a sã doutrina com o formato do mundo ou com a religião casada com os interesses dos homens.

Agostinho foi um criador de heresias para o combate de outras heresias. Foi isto que ele fez ao contradizer sua própria obra denominada “livre-arbítrio”, com o objetivo de combater a heresia do pelagianismo. Agostinho literalmente negou o livre-arbítrio em seus argumentos para vencer o debate contra o pelagianismo.

AS ORIGENS DA INQUISIÇÃO CATÓLICA E DA INQUISIÇÃO CALVINISTA

Pode-se dizer que Agostinho é o pai da geração de perseguidores dentro da história do cristianismo. O manual dele foi seguido tanto pela inquisição católica, quanto pela inquisição calvinista em Genebra, conhecida historicamente como inquisição protestante. “Agostinho de Hipona não apenas se absteve de dar uma base dogmática ao que havia se tornado a prática da Igreja, mas até declarou encontrar validade final à mesma na Escritura: ‘é, realmente, melhor que os homens sejam levados a servir a Deus pela instrução do que pelo medo do castigo, ou pela dor. Mas, como os primeiros meios são melhores que os últimos, estes, portanto, não devem ser negligenciados; muitos devem ser levados de volta ao seu Senhor, como servos maus, pela vara do sofrimento temporal, porque eles alcançam o mais alto grau do desenvolvimento religioso.... O próprio Senhor ordena que os convivas sejam antes convidados e em seguida sejam compelidos à Sua Grande Ceia. E Agostinho argumenta que se o Estado não tem o poder de castigar o erro religioso, não poderia punir um crime como assassinato. Corretamente diz Neander sobre o ensino de Agostinho que ele contém o germe de todo o despotismo espiritual, da intolerância e da perseguição, até mesmo ao tribunal da inquisição’ Não foi muito antes, que o último passo foi dado pela doutrina da perseguição da Igreja. Leão, o Grande, o primeiro dos papas, num estrito sentido do termo, retirou a inferência lógica das premissas a ele já providas pelos Pais da Igreja, ao declarar que a morte é a penalidade apropriada para a heresia” (Vedder, “Our New Testament”, pp. 97/98).

Agostinho tornou-se um ferrenho perseguidor dos cristãos donatistas. O bispo donatista Petiliano, contra quem Agostinho debateu, assim respondeu ao bispo católico: - "Pensai vós em servir a Deus matando-nos com as vossas mãos? Enganais a vós mesmos. Deus não tem assassinos por sacerdotes. Cristo nos ensina a suportar a perseguição, não vingá-la". E o bispo donatista Gaudencio diz: - "Deus não nomeou príncipes e soldados para propagarem a fé. Nomeou profetas e pescadores".

A inquisição protestante pode ser entendida como a prática eficaz de todas as heresias agostinianas por um governo eclesiástico manipulador, casado com o estado. Calvino foi longe demais, ao oficializar uma doutrina (1.100 anos mais tarde) que o próprio catolicismo idólatra recusou-se a oficializar, a negação do livre-arbítrio. A condenação por afogamento sofrida por Cristãos anabatistas pela igreja reformada é a cópia fiel da perseguição de Agostinho aos donatistas. Assim a negação do livre-arbítrio, a prática do Pedobatismo e o uso da violência contra os "hereges" e dissidentes seriam semeados dentro da reforma protestante tal qual o joio é semeado no meio do trigo. 

As heresias de um único homem foram mais valorizadas do que todo o testemunho patrístico, anterior e posterior a Agostinho de Hipona.

UM LUGAR AO SOL PARA OS DISCÍPULOS DE CALVINO

Confira a fala de um escritor calvinista: “Por essa razão, na sabedoria inescrutável de Deus, o verdadeiro agostinianismo teve que aguardar o tempo da Reforma para a aceitação na Igreja de Cristo. Aquele que tem mesmo um conhecimento superficial das Institutas da Religião Cristã de Calvino vai saber quantas vezes Calvino apela para Agostinho em um esforço consciente para apontar que ele mantém a tradição do grande bispo de Hipona.

E assim nós também. Estudantes e discípulos de Calvino como somos, sabemos que a verdade que amamos e estimamos é uma verdade que teve origem no século V, nos ensinamentos do amado Agostinho, bispo de Hipona. E ao sustentarmos os ensinamentos da Escritura que eram queridos para Agostinho, podemos encontrar suas palavras ecoando em nossos corações: "Fizeste-nos para Ti, e o nosso coração inquieto está até que em Ti descanse".” Retratos de Santos Fiéis – Herman Hanko – pg 58.

Querem me fazer crer que a verdadeira fé cristã esteve escondida e somente Agostinho a percebeu em pleno século V e como ela foi rejeitada por toda a cristandade e serviu somente ao propósito de Agostinho, em seu debate contra os discípulos de Pelágio, querem que eu creia que Deus a reservou para a reforma protestante. Esqueceram-se somente de um detalhe: Cristo edificou uma igreja e ele mesmo disse que as portas do inferno nunca prevaleceriam contra ela. Dizer que a verdadeira fé estava para ser manifesta é algo tão ingênuo, quanto duvidar de Cristo em prol de argumentos toscos ou preferir outro evangelho. Eu creio em Cristo. Em Calvino eu não creio.

UM LUGAR DE DESTAQUE PARA UM GRANDE HEREGE

Agostinho de Hipona foi canonizado e hoje é “venerado” pela Igreja Católica Apostólica Romana. O Santo católico também possui muito prestígio entre os calvinistas e também é chamado de “santo” pelos mesmos, pelo simples fato de ter sido o primeiro bispo católico a compor um tratado sobre a predestinação. Calvino não seria a personagem que a história conhece, se antes dele não tivesse existido um herege chamado Agostinho. Calvino não copiou apenas teologia de Agostinho, ele queria ser bom naquilo que fazia, afinal um bom intelectual usa teologia intelectual de primeira categoria e aquela de Agostinho era a mais intelectual para aqueles dias de reforma protestante. Calvino não resistiu, copiou também os métodos de matar e condenar hereges prescritos pelo santo católico. Se fosse ficção, Agostinho teria sido uma espécie de John Carter (o herói de dois mundos) como trata-se da realidade, Calvino elevou o herege e santo católico ao patamar de “SANTO DE DUAS IGREJAS”.

Calvino e Agostinho se condenam nas próprias palavras do santo católico, escritas quando este ainda era um jovem convertido e não havia se desviado para o caminho dos ataques inquisitórios: “Deus, sem dúvida alguma, deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade, mas não lhes tirando o livre-arbítrio, pelo bom ou mau uso do qual é que poderão ser justamente julgados” (capítulo 58 da obra Livre-Arbítrio).

Parece que quando a impiedade e a violência entram no coração do cristão, o primeiro passo espiritual dele é abraçar a teologia do engano.

Fonte: http://pregadorperegrino.blogspot.com.br/