OS TRADUTORES DA BÍBLIA E OS "DRAGÕES" DA EUROPA MEDIEVAL

TEXTO ADAPTADO

 

Primeiro precisaremos nos deter em alguns textos bíblicos traduzidos para a língua inglesa cerca de 400 anos atrás - Estes mesmos textos  foram traduzidos para a língua portuguesa (cerca de 100 anos depois) usando os mesmos critérios de tradução (equivalência formal)... (Saiba mais sobre as traduções bíblicas). Vejamos:

"Naquele dia o SENHOR castigará com a sua dura espada, grande e forte, o leviatã, serpente veloz, e o leviatã, a serpente tortuosa, e matará o dragão, que está no mar". - Isaías 27:1(ARC).                                                                            

"Desperta, desperta, veste-te de força, ó braço do Senhor; desperta como nos dias passados, como nas gerações antigas; não és tu aquele que cortou em pedaços a Raabe e feriu o dragão?" - Isaías 51:9 (ARC).

Raabe ► Altivez, insolência, orgulho. 1. Um nome poético do Egito (Sl 87:4 - 89:10 - IS 51:9), baseado, segundo parece, num antigo conto mitológico, em que Raabe aparece como monstro marinho. 2. Uma prostituta de Jericó, que ocultou os espias que tinham sido mandados por Josué. Como recompensa do seu ato, foi poupada a sua vida, quando a cidade foi conquistada (Js 2,e 6.25). Casou com Salmom, um príncipe de Judá, e dela descendeu Davi e Jesus (Mt 1.5). o autor da epístola aos Hebreus engrandece a sua fé (11.31) – e S. Tiago a mencionou como exemplo daquela fé, que produz boas obras (2.25).

"Nabucodonosor, rei da Babilônia, me devorou, pisou-me, fez de mim um vaso vazio, como dragão me tragou, encheu o seu ventre das minhas delicadezas e lançou-me fora" - Jeremias 51:34 (ARC). *(Lançar fora ► Vomitar).

"Tu dividiste o mar pela tua força; quebrantaste a cabeça dos monstros das águas" - Salmos 74:13 (ARC).

O termo Tanniyn (hebraico) é usado no texto bíblico para fazer referencia a certos animais de grande porte. Tanniyn é traduzida de algumas poucas maneiras diferentes nas bíblias de língua inglesa e portuguesa; às vezes como “monstro do mar”, às vezes como “serpente”. É mais comumente traduzida como “dragão”. No hebraico atual esta palavra significa literalmente crocodilo, todavia no tempo dos escritores bíblicos ela designava outros animais cuja descrição (no próprio texto bíblico) destoa completamente das características do crocodilo.

Na época em que a Bíblia foi traduzida para a língua inglesa pela primeira vez, os cientistas da época chamavam os repteis gigantes de dragões. A linguagem dos povos está em constante mudança, uma palavra que hoje abarca um significado, antigamente poderia abarcar outros, completamente diferentes. Nas histórias medievais, por exemplo, o dragão é uma espécie de "serpente" e todas as "serpentes" pertencem a categoria dos répteis.  Vejamos a definição do termo dragão em uma enciclopédia do século XIX: “Uma espécie de serpente alada, muito celebrada no romance da Idade Média”. (Webster, Daniel, An American Dictionary of the English Language , S. Converse, New York, 1828, p. 67).

O naturalista e médico suíço Konrad Gesner publicou uma enciclopédia de quatro volumes de 1516-1565 intitulada  Historiae Animalium. Ele mencionou os dragões como “criaturas muito raras, mas ainda vivas” (p. 224).

Ulysses Aldrovandus é considerado por muitos o pai da história natural moderna. Ele viajou muito, coletou milhares de animais e plantas e criou o primeiro museu de história natural. Suas impressionantes coleções ainda estão em exibição na Universidade de Bolonha (a universidade mais antiga do mundo). Suas credenciais dão crédito a um incidente que Aldrovandus relatou pessoalmente a respeito de um dragão. O dragão foi visto pela primeira vez em 13 de maio de 1572, sibilando como uma cobra. Estava escondido na pequena propriedade de Mestre Petronius. Às 17h, o dragão foi pego em uma via pública por um pastor chamado Baptista, perto da cerca viva de uma fazenda particular, a um quilômetro e meio dos arredores da remota cidade de Bolonha. Baptista estava seguindo sua carroça de bois para casa quando percebeu que os bois pararam de repente. Ele gritou com eles, mas eles se recusaram a se mover e se ajoelharam em vez de avançar. Neste ponto, o pastor notou um som sibilante e ficou surpreso ao ver aquele estranho dragãozinho à sua frente. Tremendo, ele o golpeou na cabeça com sua vara e o matou. Aldrovandus presumiu que o dragão era jovem, a julgar pelas garras e dentes incompletamente desenvolvidos. (Aldrovandus, Ulysses, A História Natural de Serpentes e Dragões, 1640, p.402.) 

Ao contrário do que se pensa, existem centenas de relatos de incidentes com dragões e outros animais estranhos na história medieval européia, muitos destes incidentes foram devidamente registrados nas crônicas e livros de registro dos padres católicos e pelas autoridades locais das cidades. A existência destes relatos fazem o texto bíblico ganhar sentido aos olhos do leitor atento.

"De noite saí pela porta do vale na direção da fonte do dragão e da porta do monturo, examinando o muro de Jerusalém que havia sido derrubado, e suas portas, que haviam sido destruídas pelo fogo" - Neemias 2:13